Como as mídias sociais podem influenciar na saúde mental?

Como as Mídias Sociais podem influenciar na saúde mental?

Nos últimos dias muito se tem visto e ouvido sobre a campanha Setembro Amarelo. São vários sites, portais e publicações compartilhadas no Facebook incentivando a procura de ajuda e oferecendo um espaço pessoal em seu próprio Facebook para que qualquer um que esteja enfrentando dificuldades possa desabafar sobre o problema.

O que é o Setembro Amarelo?

Setembro amarelo é uma campanha de conscientização e prevenção do suicídio, que acontece de forma simultânea em todo o mundo, durante o mês de setembro, em especial o dia 10, considerado o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio.

No Brasil, as atividades tiveram início apenas em 2014, concentradas na cidade de Brasília. Um ano após, em 2015, a campanha ganhou voz no país inteiro, inclusive com o apoio e destaque com iluminação de monumentos como Cristo Redentor no Rio de Janeiro/RJ, o Congresso Nacional e a ponte Juscelino Kubitschek em Brasília/DF, o estádio Beira Rio em Porto Alegre/RS entre outros.

Principais Causas do Suicídio

De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos, sendo esse o responsável pela maior causa de morte de jovens em todo o mundo, atrás somente de acidentes de trânsito, mas superando doenças como HIV.

Distúrbios suicidas e mentais aparecem como a grande maioria dos casos de suicídio, como distúrbios alimentares, uso de álcool e depressão. Além disso, casos gerados por impulso em momentos de crise são também apontados como grandes causadores, tais como problemas financeiros, dores crônicas, doenças e problemas de relacionamento.

Além disso, grupos vulneráveis sofredores de qualquer tipo de discriminação completam a lista, como grupos indígenas, refugiados e imigrantes e grupos de lésbicas, gays e transgêneros.

Como as Redes Sociais podem ajudar?

Dia após dia, diversas pesquisas apontam o uso excessivo das redes sociais como fortes influentes na saúde mental da população, em sua grande maioria fazendo ligação a causas de depressão, baixo auto estima e ansiedade. Do outro lado dessa máxima, é possível observar inúmeros canais e comunidades de apoio a quem passa por essas dificuldade, tanto em redes sociais, como em sites, portais etc.

Frequentemente pessoas com dificuldades enfrentam julgamentos e são tidas como “loucas” ou “frescas” diante da dificuldade que enfrentam, isso, além de agravar o caso, pode ser considerado como uma das principais causas de afastamento do necessitado das demais pessoas, ambientes etc.

Redes Sociais e o ambiente acolhedor

Com a popularização da internet na última década, as redes sociais têm sido utilizadas como fonte de aprendizado e apoio para os problemas enfrentados por essas pessoas com dificuldades. Devido ao afastamento social que encontram nas situações que enfrentam, as pessoas enxergaram nas redes sociais uma forma de pesquisar e entender mais sobre determinados assuntos que as aflige.

A campanha Setembro Amarelo traz consigo uma corrente de compartilhamento de publicações e texto incentivando amigos com problemas a desabafarem e solicitarem ajuda, uma iniciativa que visa oferecer auxilio a quem precisa e uma forma de mostrar que essa pessoa não está sozinha.

setembro amarelo
Exemplo de publicação compartilhada por usuários do Facebook

Conversamos com Isabela Rosa, uma usuária do Facebook que compartilhou a corrente. A respeito do que a motivou a oferecer um espaço para que seus amigos com dificuldades pudessem conversar, ela nos diz:

“Eu tenho vários amigos que tem depressão e eles sempre vêm procurar por ajuda seja pra conversar ou só pra ter alguém do lado pra não se sentir sozinho. Eu tento conversar e estar ali pra eles da maneira que eles precisam. Por isso compartilhei o negocio do setembro amarelo, pois já experenciei a depressão e a solidão através desses meus amigos, e sei que as vezes cinco minutinhos podem mudar o temperamento e ajudar alguém.”

Um pouco a fundo, perguntamos sobre quais os conselhos e quais os tipos de ajuda ela poderia oferecer caso alguém solicitasse apoio. Isabela responde “Eu tenho uma grande amiga que tem depressão fortíssima e ela já falou sobre suicídio várias vezes, e eu me preocupei muito de início pois não sabia lidar. Mas acho que o importante é tentar fazer a pessoa perceber o mundo ao redor, ver que aquilo que ela esta sentindo não é maior do que a amizade e amor das pessoas a sua volta. A parte sentimental tem muito valor quando alguem fala em suicidio, por que muitas vezes eles se sentem sozinhos e o que precisam é de atenção, carinho, compreensão e muito amor.”

A Psicologia por trás do voluntariados das Redes Sociais

Em sua grande maioria, as correntes compartilhadas no Facebook, Twitter e afins são feitas por usuários comuns e não por profissionais aptos a auxiliar qualquer pessoa com dificuldade. Em um primeiro momento, algumas pessoas podem classificar esse quadro como “preocupante” uma vez que as pessoas não tem preparo profissional para lidar com quem está passando por problemas. No entanto, não é isso que vemos. Para falar sobre o assunto e a influencia positiva das redes sociais na saúde mental, conversamos com duas psicólogas, que abordam a importância e os cuidados com essas correntes.

A Psicóloga Simone Micos dos Santos – CRP 08/21772 fala sobre de que maneira o contato virtual pode ajudar pessoas que estão com problemas ou dificuldades. Para a Psicóloga “A pessoa que pensa em suicídio pouco deseja a morte de fato, mas procura o alívio do sofrimento que sente, por não encontrar para este uma solução possível. Ter a possibilidade de formar uma rede de apoio ou ao menos se sentir amparado e escutado pode ter um efeito apaziguador, poder se olhar pelos olhos dos outros permite ao sujeito repensar sua posição e fazer uma mudança.  Por vivermos em uma época tão virtual, o contato neste meio pode cumprir a função desejada, em um primeiro momento, lembrando que não sabemos como nossas palavras podem impactar os outros e por isso precisam ser utilizadas com cuidado.”  

Já a Psicóloga Renata Rafaelly de Oliveira – CRP 08/21235 nos fala sobre a importância dessa rede de apoio virtual e a possibilidade do contato anônimo em muitos casos. Segundo Renata “Muitas pessoas tem dificuldades em manifestar seu sofrimento e procurar ajuda, principalmente pelo medo da exposição, a oportunidade de estabelecer uma rede de apoio virtual acaba por estimular com que a pessoa consiga obter um suporte e o faça de forma anônima.”

Como assuntos relacionados ao suicídios e a morte em muitos casos ainda são considerados um tabu, nós questionamos as psicólogas sobre a campanha Setembro Amarelo e se a evidência desses assuntos relacionados ao suicídios não podem contribuir para o aumento no número de casos.

Para Simone, não é dessa forma que funciona, ela afirma que “A divulgação de informações permite ao indivíduo perceber que não está sozinho em sua angústia, que aquilo que ele sente também é sentido por um grande número de pessoas, o que reduz o sentimento de inadequação. A divulgação de possibilidades de tratamento/acompanhamento e facilitação de onde procurar esses serviços também é muito positiva. Vetar a discussão deste tipo de tema por medo de desencadear um aumento no índice de suicídio, nesse caso, só faz com que o suicídio e a morte sejam vistos cada vez mais como “tabus”. Poder falar abertamente do assunto permite que preconceitos sejam rompidos e a população, de uma forma geral, esteja mais aberta para amparar este sujeito e até mesmo perceber se ele dá algum sinal neste sentido, pois a crença de que “quem quer se matar não avisa e sim se mata” é um mito, aquele que pensa em suicídio demonstra sim (da maneira que consegue), o que acontece é que muitas vezes estamos cegos demais para ver. Enxergar a possibilidade de morte no outro é enxergar nossa própria fragilidade enquanto humanos, o que acaba gerando certa resistência para percebermos e falarmos disto.”

A Psicóloga Renata ressalta a importância do cuidado com a comunicação. Segundo ela “As campanhas publicitarias devem ser extremamente responsáveis de modo com que seja possível o estabelecimento de uma rede de apoio a sujeitos com indícios de depressão, ou outros transtornos emocionais, e não uma simples exposição do tema podendo gerar um efeito cascata.” 

A ajuda oferecida por pessoas que não são profissionais, como essas correntes vistas nas redes sociais, dispensa a ajuda de um profissional capacitado?

Para Renata, a resposta é simples: Não, é bom para o individuo receber apoio familiar e de seu grupo de amigos, bem como é de suma importância que este sinta-se inserido e aceito pelo grupo social, porém é indispensável o tratamento médico / psicológico visto que o arcabouço teórico é essencial para que o sujeito volte ao patamar pleno de saúde mental.

A Psicóloga Simone complementa “Como dito anteriormente, esta ajuda pode ser útil em um primeiro momento, mas o acompanhamento profissional não pode ser dispensado. Dar o primeiro passo em busca de ajuda é sempre muito difícil, por orgulho ou tantas outras barreiras, e esse amparo inicial pode representar o apoio que muitas pessoas precisam para buscar ajuda profissional.”.

De que maneira as redes sociais podem influenciar de forma positiva pessoas com dificuldades?

Renata: Funcionam principalmente como um lugar onde o sujeito pode realizar uma manifestação livre de julgamentos e anônima, porém pode ser demasiadamente prejudicial pela concentração de grupos que validam os sintomas depressivos e maniacos.

Simone: Abrir a discussão de temas que são considerados “tabus” permite que a sociedade se torne menos discriminatória e que os sujeitos se sintam mais acolhidos em suas dificuldades e aptos a pedir ajuda profissional.

Como vimos, o apoio das redes sociais podem ser o primeiro passo para quem enfrenta problemas lidar com a situação. Existem muitas correntes, pessoas e canais dispostos a oferecer ajuda para quem precisa. Gostaria de agradecer a contribuição das Psicólogas Renana e Simone com relação a um assunto tão importante como esse.

Para encerrar a publicação de hoje, vamos deixar aqui alguns links que podem ser úteis para quem se interessou pelo assunto e/ou quem precisa de apoio:

 

Centro de Valorização da Vida – CVV: Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e Skype 24 horas todos os dias. https://www.cvv.org.br/

Associação Brasileira de Psiquiatria: Campanha Setembro Amarelo começa em todo o país. Confira a agenda! https://www.abp.org.br/portal/setembro-amarelo-2/

Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio – ABEPS: https://www.abeps.org.br/

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